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Capítulo XIX | O Segundo Ano de Comissão (5ªParte)


Ultramar, Mueda, Moçambique soldado português, Inferno de Mueda

Nem sequer caserna têm

Dormem à chuva e no chão

Até mesmo sem colchão

Mas mato eles não querem

Deixaram o turra alugar

Agora que hão de fazer

Os colegas vêem morrer

E têm que aguentar

Cinco mortos nós tivemos

Mas muitos mais lhes causaramos

Por isso fama deixaramos

No lugar de onde viemos

Com a minha companhia

O turra não punha mina

Mesmo à porta do China

Fosse de noite ou de dia

Agora por todo o lado

Daquela zona maldita

O turra sempre arma fita

E quem sofre é o soldado

Já foram nossos vizinhos

E agora são também

E em Nancatai estavam bem

Agora estão piorzinhos

Sem qualquer morto em desgraça

Vieram daqueles lados

E agora cinco soldados

Morreram cá no Niassa

Logo a seguir a Mueda

A segunda capital

E o Niassa onde afinal

A guerra é bem azeda

Já começaram as "bocas"

Dizendo que para Janeiro

Vamos embora; porreiro

Mas as esperanças são poucas

Na chamada "volta ao mundo"

Que todos os anos é feita

A morte está sempre a espreita

Mas não morreu nenhum "zundo"

Nessas picadas pequenas

De Mocimboa a Rocimba

Minas não foram só uma

Mas setenta e seis apenas

Estou a ficar saturado

Desta grande porcaria

Estou a alinhar dia-a-dia

E ainda sou maltratado

Meu Cascais nunca se esquece

Até em sonhos o vejo

Regressar é o meu desejo

E nada mais me apetece

Até já mesmo escrever

É para mim um sacrifício

Que me traz um benefício

Ajuda-me a esquecer

Mas fico contente agora

Quando correio recebo

E confesso, não percebo

Porque a resposta demora

Falta-me até a paciência

P´ra acabar este diário

E dantes era ao contrário

(Relato escrito diariamente entre 9/11/1969 e 24/11/1969)

O tuFosse

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