top of page

Capítulo VII | Estágio (1ªParte)

"Moeda"

Enterrando um colega em Moçambique, Moeda 1968

A Moeda hoje cheguei

Nem uma moeda tenho

Mas também não me importei

Só para lutar eu venho

Tivemos por "Boas Vindas"

O apelido de "Chekas"

E à noite ao ouvir tiros

Alguém borrou as cuecas

Fez ontem ao meio dia

Um mês que a gente embarcou

Foi passado na viagem

Há dois dias aqui estou

Moeda onde se luta

Moeda onde se morre

Agora aqui em Moeda

Ao ver um preto se corre

Verso da Fotografia, Moeda Moçambique 1968

Nesta terra pouco vale

Aquilo que a gente come

Se não se morre da bala

Ninguém escapa da fome

Por aqui não passou Cristo

Posso bem alto gritar

Só às negras não resisto

Algumas são de tarar

Vésperas de São João

Num desespero tamanho

Tive a primeira alegria

Poder hoje tomar banho

Até hoje nunca vi

Um quartel tão mal cheiroso

Comemos sempre ao ar livre

Com tempo enchuto ou chuvoso

Até hoje nada fiz

Procedendo com malícia

Mas acabo por fazer

Uma guarda à polícia

De serviço esta noite

Toda em claro passei

Foram 3 dias pró mato

E eu cá dentro fiquei

Está hoje um dia triste

Convidando a pensar

Meu pensamento não foge

Da linha do recordar

Cada cartinha que chega

Do meu amor d´alem-mar

É como uma gota d'água

Num cravo quase a secar

Doze dias de Mueda

Os trabalhos que efectuei

Uma guarda à polícia

E um colega que enterrei

Por este colega rezo

E pela sua memória

Que ele peça também

Que eu volte prá minha Glória

(Relato escrito diariamente entre 17/06/1968 e 30/06/1968)

21 visualizações
Categorias
Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Tags
bottom of page