Capítulo VII | Estágio (1ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 31 de mar. de 2018
- 1 min de leitura
"Moeda"

A Moeda hoje cheguei
Nem uma moeda tenho
Mas também não me importei
Só para lutar eu venho
Tivemos por "Boas Vindas"
O apelido de "Chekas"
E à noite ao ouvir tiros
Alguém borrou as cuecas
Fez ontem ao meio dia
Um mês que a gente embarcou
Foi passado na viagem
Há dois dias aqui estou
Moeda onde se luta
Moeda onde se morre
Agora aqui em Moeda
Ao ver um preto se corre

Nesta terra pouco vale
Aquilo que a gente come
Se não se morre da bala
Ninguém escapa da fome
Por aqui não passou Cristo
Posso bem alto gritar
Só às negras não resisto
Algumas são de tarar
Vésperas de São João
Num desespero tamanho
Tive a primeira alegria
Poder hoje tomar banho
Até hoje nunca vi
Um quartel tão mal cheiroso
Comemos sempre ao ar livre
Com tempo enchuto ou chuvoso
Até hoje nada fiz
Procedendo com malícia
Mas acabo por fazer
Uma guarda à polícia
De serviço esta noite
Toda em claro passei
Foram 3 dias pró mato
E eu cá dentro fiquei
Está hoje um dia triste
Convidando a pensar
Meu pensamento não foge
Da linha do recordar
Cada cartinha que chega
Do meu amor d´alem-mar
É como uma gota d'água
Num cravo quase a secar
Doze dias de Mueda
Os trabalhos que efectuei
Uma guarda à polícia
E um colega que enterrei
Por este colega rezo
E pela sua memória
Que ele peça também
Que eu volte prá minha Glória
(Relato escrito diariamente entre 17/06/1968 e 30/06/1968)
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