Capítulo IV | I.A.O (7ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 17 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
À meia noite certinha

Chuvinha, se Deus a dava
Andamos toda a noitinha
Mandando a tropa à fava
A fardeta camuflada
Só hoje a fui receber
Faz-me lembrar a largada
Já tão perto a estou a ver
Último fim de semana
Hoje a casa vim passar
Pois de hoje a quinze dias
Devo estar a embarcar
Hoje em casa experimentei
Minha farda camuflada
Todo nas calças entrei
Cá fora não ficou nada
Ao quartel estou chegando
Acabada a brincadeira
As minhas calças deixando
Arranjar na costureira
Mesas e bancos de ferro
Mas o comer é nojento
Alguém tinha de pagar,
Aquele melhoramento
Ouves folha de papel
Guarda para nós dois
Hei-de deixar o quartel
Sem mudar os meus lençois

Hoje fomos para casa
Últimas férias passar
E daqui por 8 dias
Temos já que regressar
A casa hoje cheguei
Tristonho até mais não
Até nem sequer jantei
Estava triste sem razão
Volto hoje a trabalhar
Mais para me distrair
Prá meia noite arrancar
E dos velhos me despedir
Este sábado inteirinho
Passei-o nas despedidas
Pobres soldados que deixam
Suas famílias queridas
Dos meus pais me despedi
Voltei para junto a ti
Viver as últimas horas
Muito temos que sofrer
Em dois anos sem te ver
Mas peço-te que não me chores
Para acabar um serviço
Voltei hpje a trabalhar
Quase que trabalhava
No dia de embarcar
Hoje à noite cowboiada
Parte, na adega Machado
À uma fui para O Lima
Tive uma noite de fado
Hoje fui com a miúda
Ver o filme "A Princesa"
Sentimental de verdade
Fez-me voltar à tristeza
Disse hoje adeus a Cascais
A quem devo a mocidade
Até breve ou nunca mais
E até minha beldade
Que Deus me sirva de escudo
E muita coragem me dê
E que faça regressar vivo
Todo o que nele tem fé
De madrugada cheguei
Ao cais de embarque e esperei
A hora de embarcar
Ao meu amor abraçado
Deixei-a esperançadp
De um dia regressar
SORTE 18-5-G8
(Relato escrito diariamente entre 01/05/1968 e 18/05/1968)
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