Capítulo I | Recruta (1ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 11 de nov. de 2017
- 2 min de leitura

Primeiro mês
Em Estarreja nasci
Em Cascais estava a morar
Fui apurado aí
Pró serviço militar
Assentei praça em Lagos
Linda terra à beira mar
No dia 30 de Outubro
Meu cabelo fui cortar
Ao segundo dia de tropa
A farda fui receber
E pensei cá para mim
Tenho muito que sofrer
No quartel boa caminha
A comida era boa
Mas que saudades eu tinha
Dos arredores de Lisboa
Ao quarto dia que saudade,

E comecei a sentir
A falta de liberdade
Pois não podia sair
Ironias do destino
Ao traçar o meu caminho
No quarte,l uma cantina
Onde havia um belo vinho
Ao quinto dia exigiram
A farda que nem um brinco
Mas a minha estava larga
Disse mal do CICA cinco*
Com uma semana de tropa
Mas que tristonho eu fico
Só por um cabo qualquer
Me tratar por maçarico
Meu nome não mais ouvi
Nem apelido nenhum
Em troca deram meu um número
0 891
O Plantão que grande prato
Estava sempre a embirrar
E de me tirar o número
Estava sempre a ameaçar
Já farto de o ouvir
Eu hoje disse-lhe então
Não me fales mais no número
Ó malfadado Plantão
Num quarto particular
Me encontrava instalado
E para eu não estranhar
Oitenta homens ao lado
Camas de primeiro andar
Uma caixa e um armário
Era da minha caserna
Todo o mobiliário
Aos treze dias de tropa
Escutei com aflição
O aspirante dizer
Formem já para a injecção
Com muitas dores no braço
De manhã ao acordar
E como todos os dias
Fui as batatas cascar
Hoje mandam-me para casa
Com o braço a doer
Pois se eu aqui nada faço
Lá nada posso fazer
Esqueci logo os tormentos
Quando a casa cheguei
Contei todos os momentos
Mais tristes porque passei
E então com meu amor
A tropa fiz por esquecer
Mas logo no outro dia
Tinha que comparecer
(Relato escrito diariamente entre 30/10/1967 e 15/11/1967)
*CICA 5- Centro de Instrução de Condução Auto n.º 5 em Lagos.
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