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Capítulo I | Recruta (1ªParte)


Manuel em Cascais 1967

Primeiro mês

Em Estarreja nasci

Em Cascais estava a morar

Fui apurado aí

Pró serviço militar

Assentei praça em Lagos

Linda terra à beira mar

No dia 30 de Outubro

Meu cabelo fui cortar

Ao segundo dia de tropa

A farda fui receber

E pensei cá para mim

Tenho muito que sofrer

No quartel boa caminha

A comida era boa

Mas que saudades eu tinha

Dos arredores de Lisboa

Ao quarto dia que saudade,

Baía de Cascais 1967

E comecei a sentir

A falta de liberdade

Pois não podia sair

Ironias do destino

Ao traçar o meu caminho

No quarte,l uma cantina

Onde havia um belo vinho

Ao quinto dia exigiram

A farda que nem um brinco

Mas a minha estava larga

Disse mal do CICA cinco*

Com uma semana de tropa

Mas que tristonho eu fico

Só por um cabo qualquer

Me tratar por maçarico

Meu nome não mais ouvi

Nem apelido nenhum

Em troca deram meu um número

0 891

O Plantão que grande prato

Estava sempre a embirrar

E de me tirar o número

Estava sempre a ameaçar

Já farto de o ouvir

Eu hoje disse-lhe então

Não me fales mais no número

Ó malfadado Plantão

Num quarto particular

Me encontrava instalado

E para eu não estranhar

Oitenta homens ao lado

Camas de primeiro andar

Uma caixa e um armário

Era da minha caserna

Todo o mobiliário

Aos treze dias de tropa

Escutei com aflição

O aspirante dizer

Formem já para a injecção

Com muitas dores no braço

De manhã ao acordar

E como todos os dias

Fui as batatas cascar

Hoje mandam-me para casa

Com o braço a doer

Pois se eu aqui nada faço

Lá nada posso fazer

Esqueci logo os tormentos

Quando a casa cheguei

Contei todos os momentos

Mais tristes porque passei

E então com meu amor

A tropa fiz por esquecer

Mas logo no outro dia

Tinha que comparecer

(Relato escrito diariamente entre 30/10/1967 e 15/11/1967)

*CICA 5- Centro de Instrução de Condução Auto n.º 5 em Lagos.

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