Capítulo VI | A Viagem "Ida" (1ªParte)
- Manuel Oliveira e Silva
- 3 de mar. de 2018
- 1 min de leitura

Acabo de embarcar
Para ir pró Ultramar
E cumprir o meu dever
Na hora da despedida
Abracei a minha querida
E disse-lhe "até mais ver"
Hoje vou pelo mar fora
Lembrando a maldita hora
Em que o "Niassa" largou
E os mil lenços a acenar
Muita família a chorar
No cais de Alcântara deixou
A ausẽncia já é mãe
A sua filha também
Tortura todo o meu ser
Sua filha é a saudade
De mim não tem piedade
De amor me faz sofrer
Quarto dia de viagem
Sopra uma leve aragem
Que me alivia o calor
Que trago dentro do peitp
Junto dum sonho desfeito
Tão longe do meu amor
À Madeira já passei
As Canárias avistei
Hoje pela madrugada.
Mal podendo decifrar,
Se eram serras sobre o mar
Ou nuvens de trovoada
Com a sua calmaria
O mar parece uma ria
Deixando-se atravessar
Com estes barcos potentes
Carregados de valentes
Que o seu sangue vão dar
Cada vez está mais calor
Andando pró Equador
Este barco já velhinho
Deus queira que chegue bem
E que eu regresse também
Com o esqueleto inteirinho
Passamos o Equador
Com muita chuva e calor
Que era de abafar
Ò que clima tão diferente
Mesmo a chover é quente
Vou custar-me a habituar
(Relato escrito diariamente entre 18/05/1968 e 25/05/1968)
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