Capítulo V | Embarque
- Manuel de Oliveira e Silva
- 24 de fev. de 2018
- 1 min de leitura

I
Mal o dia era chegado
Em Alcântara atracado
Um barco estava a esperar
Que um grande contingente
De tropas do continente
Partisse pró Ultramar
As tropas logo chegaram
As bagagens embarcaram
E voltaram a sair
Não só para desfilar
Mas também para chorar
Quando foi ao despedir
Agora falo por mim
Sinto tal e qual assim
Como o vou descrever
O pior do embarcar
É ter de abraçar
Quem talvez não torne a ver
Abracei-me com ternura
Áquela miuda pura
Como uma rosa em botão
Sofri, porque hei de mentir
Mas disse-lhe adeus a rir
Chorar, isso é que não

II
Se chorasse aliviava
A dor que me trespassava
E dois anos durará
Até que um barco qualquer
Me ponha frente à mulher
Que por mim esperará
Se esse dia chegar
Que eu volte do Ultramar
Inteiro ao Continente
Valeu a pena sofrer
Só para depois te ver
Risonha na minha frente
Parto com fé e esperança
Em ti tenho confiança
Só te tenho a ti na vida
Não me quero arrepender
De tanto por ti sofrer
Na hora da despedida
Agora vou disfarçando
De rosto bem levantado
Mostrar-te que sou leal
E um dia hei de voltar
Para depois te abraçar
Em nome de Portugal
(Relato escrito dia 28 de Maio de 1968)
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