Capítulo VI | A Viagem "Ida" (4ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 24 de mar. de 2018
- 1 min de leitura

Da comida enjoados
Eu e os outros soldados
Temos a resignação
Mas gostava de saber
Os nomes de certo comer
Que aqui nos dão
A sopa para bebés
Ou para lavar os pés
Para o caso, tanto faz
O segundo coitadinho
Couves, feijão e toucinho
Não serve cá pró rapaz
No dia de Sto. António
Por capricho do demónio
A Nacala fui chegado
Do barco eu não saí
Também não me arrependi
Fiquei na cama deitado
Mueda é o meu rumo
Desapareci como o fumo
Da cidade de Nacala
Já picado até mais não
Gramei outra injecção
Que até fiquei sem fala
Desembarquei como um paia
Em Moçambique da praia,
Jamais me posso esquecer
Ao relento me deitei
De manhã quando acordei
Mal me podia erguer
Sob um chão todo empedrado
Vestido estou deitado
Para outra noite passar
Só com pão e rações frias
Tenho que passar 3 dias
Até a Mueda chegar
Sob um sol abrasador
Vencido pelo temor
De se dar uma emboscada
Cheguei bem e estou contente
Deus queira que para a frente
Os turras não façam nada
Glória só o teu amor
Luta junto ao meu ardor
Ó turras fujam da frente
Regressarei podem crer
Ingrato não posso ser
A um amor tão ardente
(Relato escrito diariamente entre 11/06/1968 e 17/06/1968)
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