Capítulo VI | A Viagem "Ida" (2ªParte)

Oito dias são passados

E estes homens mal fadados

Anseiam já o momento

De a Moçambique chegar

Para viver a lutar

Dois anos de sofrimento

Rapazes que estão comigo

Sofram lá este castigo

Esqueçam o coração

Porque as noivas que nós temos

Sofrem como nós sofremos

Esperando com devoção

É muito simples dizer

Mas difícil de esquecer

O que na terra deixamos

Bem contra a nossa vontade

Mas juramos lealdade

À pátria que tanto amamos

Há quem diga com vaidade

Que amar dá Felicidade

Nem todos lhes dão razão

Eu por acaso não dou

Meu amor longe ficou

Sofrendo os dois de paixão

Meia viagem andada

Em Luanda dei entrada

Na sua linda baía

Depois comi e bebi

A cidade percorri

Em menos de meio dia

No barco volto a entrar

Já disposto para andar

O dobro do que andei

Estou com certa saudade

Desta bonita cidade

Onde há pouco passei

Ondas batem em cachões

Quase varrendo os porões

Deste barco altaneiro

A quem o mar ameaça

Mas penosamente passa

Vencendo o seu cativeiro

Com barcos desconjuntados

Os nossos antepassados

Estes mares atravessaram

Hoje lhes dou mais valor

Ao sofrer todo o furor

Das ondas que me embalaram

(Relato escrito diariamente entre 26/05/1968 e 02/06/1968)