Capítulo VII | Estágio (11ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 9 de jun. de 2018
- 1 min de leitura

Hoje fui para Diaca
Lá para a Engenharia
Vou ter uma semana fraca
Alinhando dia a dia
Ao acampamento cheguei
Comecei logo a alinhar
Para a picada entrei
Render* os que vão voltar
É muito triste viver
Dentro de um acampamento
Gramar massa ao comer
A toda a hora e momento
Dormir... dorme-se em beleza
Com os costados* no chão
Dormir assim que tristeza
Mas vale mais que num caixão
Nas barraquinhas de lona
Acordamos a nadar
Andou tudo numa fona*
Para a água escoar
Resta-me a consolação
De aqui sermos iguais
Quando há massa ou feijão
É também para os oficiais
Além dos velhos ciclistas
Come-se ainda grão cru
Dão-se também muita alpista
E faz-se vinho de caju
Seis meses estão passados
Um quarto da comissão
É bom reinar aos soldados
Mas na guerra, isso não
Hoje devia abalar
Se me viessem render
Afinal estou a lerpar
Outra semana a sofrer
A castanha do cajú
E a manga das mangueiras
Quando não presta o atum
Perdem-se as boas maneiras
Se Deus visse lá do céu
Estes tormentos que eu passo
Vinha à terra Deus meu
Mesmo ao Largo do Aço
Passar fome, sede, frio
Não me poupando a esforços
Beber a água do rio
E à noite fazer reforços
Vamos cedo para a picada
Já o dia está a romper
Chegamos noite fechada
Sem forças nem pra comer
Hoje duas emboscadas
Feitas por turras astutos
Mas foram aprisionadas
Uma mulher e dois "putos"
*RENDER- Substituir
*COSTADOS- Costas
*ANDAR NUMA FONA- Não descansar um momento, num alvoroço

(Relato escrito diariamente entre 11/11/1968 e 24/11/1968)
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