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Capítulo VII | Estágio (13ªParte)

  • Manuel de Oliveira e Silva
  • 23 de jun. de 2018
  • 1 min de leitura

Soldados a descascar batatas, Mueda, 1968

Houve um ferido entre os nossos

Soldados a descascar batatas, Mueda 1968 (verso)

E um fornilho rebentou

Levou uma bala nos ossos

Mas uma arma apanhou

Para o mato ontem voltou

Toda a minha companhia

A missão que ela levou

É para durar três dias

Ontem para Mocimboa vim

Mas como atirador

Isto é um passeio para mim

Que ajuda a esquecer a dor

Esta noite que passei

Estava quente de abrasar

Sem a roupa me deitei

Para as melgas alimentar

Dia treze, sexta feira

A coluna correu mal

Esta noitinha inteira

Passaremos no Sagal

A sorte nos protegeu

A Mueda ao regressar

Três fornilhos Deus nos deu

A sorte de detectar

À Companhia chegou

Não teve qualquer azar

Uma negra e o filho tentou

À noitinha se pirar

Ardeu uma Fox* ao Esquadrão

Rebentou estrondosamente

E as granadas de mão

Explodiram todas lá dentro

Um alferes que era chequinha

Numa armadilha tombou

Caiu na mesma armadilha

Que ele próprio armou

Agora é proíbido

Irmos ao aldeamento

Um gajo lá foi ferido

Não houve arrependimento

As negras foram-se queixar

Que tinham falta de homem

Se um dia a guerra acabar

Pobres delas, não comem

Não têm que se queixar

Há machambas* para fazer

Se não querem trabalhar

Na prisão há que comer

Para o que der e vier

Saiu hoje a Companhia

Que seja o que Deus quizer

Que ele os leve em bom dia

Apanham chuva e frio

Às vezes fome e calor

Se não apanham um rio

Passam sede que é pior

*MACHAMBAS- Terrenos agrícolas em Moçambique

*FOX- Veículo blindado

(Relato escrito diariamente entre 09/12/1968 e 22/12/1968)

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