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Capítulo VII | Estágio (19ªParte)

Dois feridos estão mal

Manuel fotografado à civil

Um furriel e um soldado

Hoje foi o funeral

Do Reis que era casado

Mais seis feridos, que azar

Mueda foi atacada

À base de morteirada

Estão-se a entusiasmar

Até que enfim há um dia

Sem males para apontar

Queira deus que a Companhia

Não volte a ter azar

Os carros fomos encher

De saquinhos com areia

Foi bom para nos valer

De uma mira às três e meia

O carro foi destroçado

5 feridos sem gravidade

O dia fica lembrado,

A ninguém deixa saudade

Manuel fotografado à civil (verso)

Violaram uma prisioneira

Dois soldados do Sagal

Outra comissão inteira

Para pagarem o mal

Oh que domingo aborrecido

Como outro dia qualquer

Todo o dia tem chovido

Não vejo o sol sequer

Seis horas da madrugada

E eu de Mueda a arrancar

Vou levar de abalada

os comandos a Naucatori

O tacho aqui é melhor

Pelo menos há batatas

Há outra coisa pior

Percevejos e baratas

Nos ratos porquê falar

Se são até divertidos

Anda um a cochear

Com dedos dos pés roídos

Os comandos já chegaram

Desta vez tiveram sorte

Porque uma arma apanharam

Ao doido dando a morte

Estes "sorjas"* malfadados

Estão cada vez mais tortos

Para mal dos meus pecados

Mandaram-me desenterrar mortos

Que dia de anos murchinho

O pior até então

Além de andar "tesinho"

To na ronda à guarnição

À civil eu me vesti

P'ra umas fotos tirar

Quando na rua me vi

Eu já nem sabia andar

*SORJAS- Sargento

(Relato escrito diariamente entre 10/03/1969 e 23/03/1969)

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