Capítulo VII | Estágio (19ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 9 de fev. de 2019
- 1 min de leitura
Dois feridos estão mal

Um furriel e um soldado
Hoje foi o funeral
Do Reis que era casado
Mais seis feridos, que azar
Mueda foi atacada
À base de morteirada
Estão-se a entusiasmar
Até que enfim há um dia
Sem males para apontar
Queira deus que a Companhia
Não volte a ter azar
Os carros fomos encher
De saquinhos com areia
Foi bom para nos valer
De uma mira às três e meia
O carro foi destroçado
5 feridos sem gravidade
O dia fica lembrado,
A ninguém deixa saudade

Violaram uma prisioneira
Dois soldados do Sagal
Outra comissão inteira
Para pagarem o mal
Oh que domingo aborrecido
Como outro dia qualquer
Todo o dia tem chovido
Não vejo o sol sequer
Seis horas da madrugada
E eu de Mueda a arrancar
Vou levar de abalada
os comandos a Naucatori
O tacho aqui é melhor
Pelo menos há batatas
Há outra coisa pior
Percevejos e baratas
Nos ratos porquê falar
Se são até divertidos
Anda um a cochear
Com dedos dos pés roídos
Os comandos já chegaram
Desta vez tiveram sorte
Porque uma arma apanharam
Ao doido dando a morte
Estes "sorjas"* malfadados
Estão cada vez mais tortos
Para mal dos meus pecados
Mandaram-me desenterrar mortos
Que dia de anos murchinho
O pior até então
Além de andar "tesinho"
To na ronda à guarnição
À civil eu me vesti
P'ra umas fotos tirar
Quando na rua me vi
Eu já nem sabia andar
*SORJAS- Sargento
(Relato escrito diariamente entre 10/03/1969 e 23/03/1969)
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