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Capítulo VIII | O Primeiro Ano de Comissão (2ªParte)

Verso da fotografia: "Esta é a grande verdade do soldado de Mueda. Abraça-te o teu: Manuel de Oliveira"

Neste dia do ano que acabou

Em Nacala estava a entrar

Ontem, o João Paulo actuou

Hoje vou para Nancatar

O tacho cá sempre foi bom

Mas bom mesmo a valer

Batatas "a dar com um pau"

Até dá gosto comer

A minha guerra aí anda,

Quatro dias a rações

Depois vamos para Meponda

Não há mais operações

A malta aqui até se esquece

Que está no Ultramar

Comer até apetecer

E nada de trabalhar

A Companhia aí vem

Trazem mais dois prisioneiros

Trazem a pele também

E vêm todos inteiros

Foi com os carros a par

A entrada no batalhão

A malta toda a gritar:

Por ordem do Capitão

(duas quadras seguintes indecifráveis)

Amanhã é fim de mês

E anda tudo tesinho

Pois o Peniche outra vez

Demorou-se um bocadinho

Para receber sem depois

Levarmos umas porradas

Tivemos que vestir Nº2

E umas botas engraxadas

Pra quê exigem isto aqui?!

Para a malta andar "bera"?!

Na metrópole ainda vá lá

Mas aqui não se tolera

Um morto e cinco feridos

Alguns deles gravemente

Chegaram hoje estendidos

Um vinha com os pés para a frente

E se era Furriel

A guerra não escolhe postos

Vieram de Porto Amélia

Alguns apenas uns restos

A Mueda hoje vieram

Rapazes de Nancantar

Sete feridos tiveram

Por um carro se voltar

Outra ronda à guarnição

E umas voltinhas à pista

Mas dormir isso é que não

Só por causa da revista

Adiando mês a mês

E nós aqui a gramar

Quando chega a nossa vez

De Mueda abandonar?!

(Relato escrito diariamente entre 13/06/1969 e 06/07/1969)

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