Capítulo VIII | O Primeiro Ano de Comissão (2ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 6 de abr. de 2019
- 1 min de leitura


Neste dia do ano que acabou
Em Nacala estava a entrar
Ontem, o João Paulo actuou
Hoje vou para Nancatar
O tacho cá sempre foi bom
Mas bom mesmo a valer
Batatas "a dar com um pau"
Até dá gosto comer
A minha guerra aí anda,
Quatro dias a rações
Depois vamos para Meponda
Não há mais operações
A malta aqui até se esquece
Que está no Ultramar
Comer até apetecer
E nada de trabalhar
A Companhia aí vem
Trazem mais dois prisioneiros
Trazem a pele também
E vêm todos inteiros
Foi com os carros a par
A entrada no batalhão
A malta toda a gritar:
Por ordem do Capitão
(duas quadras seguintes indecifráveis)
Amanhã é fim de mês
E anda tudo tesinho
Pois o Peniche outra vez
Demorou-se um bocadinho
Para receber sem depois
Levarmos umas porradas
Tivemos que vestir Nº2
E umas botas engraxadas
Pra quê exigem isto aqui?!
Para a malta andar "bera"?!
Na metrópole ainda vá lá
Mas aqui não se tolera
Um morto e cinco feridos
Alguns deles gravemente
Chegaram hoje estendidos
Um vinha com os pés para a frente
E se era Furriel
A guerra não escolhe postos
Vieram de Porto Amélia
Alguns apenas uns restos
A Mueda hoje vieram
Rapazes de Nancantar
Sete feridos tiveram
Por um carro se voltar
Outra ronda à guarnição
E umas voltinhas à pista
Mas dormir isso é que não
Só por causa da revista
Adiando mês a mês
E nós aqui a gramar
Quando chega a nossa vez
De Mueda abandonar?!
(Relato escrito diariamente entre 13/06/1969 e 06/07/1969)
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