Capítulo VIII | O Primeiro Ano de Comissão (4ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 20 de abr. de 2019
- 1 min de leitura

Esses mesmos três feridos
Foram aqui operados
E para Nanpula transferidos
Deus os ajude, coitados!...
Um deles hoje morreu
Tinha dois tiros no peito
Infeliz a vida perdeu
Sem mal nenhum ter feito
Esta zona é assim
Não há nada que estranhar
Eu bem sei que é ruim
Mas para mim está a acabar
Em Nangololo os Comandos
Limparam as armas "à cega"
Tiveram mais um desmando
E mataram um colega
Ainda mal o sol desponta
E um fornilho a rebentar
É mais um morto prá conta
Deus o guarde em bom lugar
Um mal não vem sozinho
Por muito que a gente faça
Ainda ontem à tardinha
Incendiou-se um caça
Um Capitão e um Tenente
Dois jovens carbonizados
À morte é indiferente
Oficiais ou soldados
Outra vez a Engenharia
Teve hoje um grande azar
Mais dois mortos neste dia
Por um trótil rebentar
Os do (Novenda?!) azarentos
Com quinze meses sem nada
Viveram trágicos momentos
Hoje numa emboscada
Sete feridos cá estão
Quatro mortos hão-de-vir
Nem enterrados serão
Para a metrópole deverm ir
Faltam 4 dias apenas
Já sonho com o paraiso
Dumas semanas serenas
Que é mesmo doque preciso
Bebedeiras entre a malta
é uma coisa por demais
Pancadaria não falta
Intervêem os oficiais
Uma patuscada e uns fados
Com os nossos dotes de artistas
Esqueci os maus bocados
Lá nos pára-quedistas
Hoje vou sair daqui
Sempre sorrindo ao dizer
Adeus terra onde eu sofri
Não te poderei esquecer
Os Chekinhas de Diaca
Hoje na curva da morte
Puderam ver como ataca
O terrorista do Norte
Não esquecerão com certeza
Esses minutos passados
Nove mortos, que tristeza
E desassete machucados
(Relato escrito diariamente entre 23/07/1969 e 07/08/1969)
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