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Capítulo VII | Estágio (4ªParte)

  • Manuel de Oliveira e Silva
  • 21 de abr. de 2018
  • 2 min de leitura

Outra vez a guerra maldita

Soldados perto de um altar, Nancatori Moçambique 1968

Se dispôs a fazer mal

Uma mina fez um ferido

Que pertencia ao Sagal

O filho duma quinhenta

Muita tristeza nos deu

Mas hoje foi enterrado

Com certeza que "morreu"

Aqui o prato do dia

Causa sempre aflição

Quando se ouve dizer

-Vai para o mato calão

Às quatro da manhãzinha

Abalei eu de Mueda

Fui buscar pára-quedistas

Ao posto 15- Mituda

Ontem, aqui toda a malta

Andava desnorteada

Só por ter feito um ano

Que cá caiu morteirada

Se os turras não existissem

Não existia a tristeza

E se as saudades partissem

Eram férias em beleza

O que é demais é moléstia

Toda a vida ouvi dizer

A boa vida não presta

E aqui não há que fazer

Os turras só estão bem

Enquanto causam sarilho

Três "páras" foram feridos

Ao rebentar um formilho

Versod da foto Nancatori, Moçambique

As mulheres cá da aldeia

São todas um grande prato

Só de vê-las já chateia

Para mais, têm, todas chatos

Grandes botões nas beiçolas

Só de olhá-las faz fugir

Os peitos parecem bolas

Ameaçando explodir

As das velhas, que engraçadas

Chegam até à cintura

Parecem pinhas queimadas

Na fornalha dum "pendura"

Ao acabar o jantar

Nesta tarde mal fadada

Seis horas estavam a dar

Começou a morteirada

A resposta não esperou

Que acabasse o perigo

Para os postos se atirou

Outros forma pró abrigo

O canhão a trabalhar

Aubuz e os morteiros

Metralha cruzava o ar

Ceifando os desordeiros

Fez-se o balanço ao combate

Sustos e gritos perdidos

As baixas que nós tivemos

Foi um morto e 3 feridos

Estava o dia a raiar

Os "comandos" arrancaram

Munições e um turra morto

As orelhas lhe cortaram

Chegou hoje de avião

Um morto por pouca sorte

Um colega que sem querer

Com um tiro deu-lhe a morte

Dois mortos e seis feridos

Balanço de uma emboscada

À coluna de Metamba

Que ontem foi atacada

Fui de reforço e pague não

Era já noite cerrada

João Paulo do Esquadrão

Lerpou com uma granada

Estão três meses a contar

Prá nossa "Missão Cumprida"

O dia que eu a acabar

Será o mais feliz da vida

(Relato escrito diariamente entre 30/07/1968 e 18/08/1968)

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