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Capítulo III | Especialidade (2ªParte)


"O Buzinas" Condutor Guerra Colonial Ultramar com veículo

Oito dias trabalhei

Dos dez que me dispensaram

Umas massas esfolei

Hoje as férias acabaram

Ao Porto hoje cheguei

Às duas da madrugada

Na caminha me deitei

Mas não me despi nem nada

Comecei a trabalhar

Para a minha adaptação

No Porto, as primeiras

Que tive de condução

No dia 5 de Janeiro

No quartel do R.I.G

Fiz o reforço primeiro

Na vez de cantar os reis

Foi hoje o fim de semana

Que dia de reis tão triste

Como não pude ir a casa

A alegria não existe

Pra conhecer a cidade

Nela ando a passear

É próprio da minha idade

Uma pileca engatar

Hoje não vi a pileca

Mas que triste sorte a minha

Também tive uma alegria,

Do meu amor, uma cartinha

Choveu muito sem parar

Desde manhã ao meio dia

Tivemos que aguentar

Tudo o que o padre dizia

Tivemos crosse e cinema

Nesta soda quarta feira

Deram-nos massa e arroz

Passamos muita laseira

Ó minha mãe quem diria

Que o fruto do seu amor

Na tropa havia de ser

Um soldado condutor

Provas em todo o terreno

Nós tivemos que prestar

E eu paguei um reforço

Se a casa quiz voltar

Encontro-me outra vez

Na minha vila de Cascais

Quem me dera pôr-lhes os pés

E não ter que a largar mais

Domingo fui ao cinema

Á noitinha a despedida

Juro que fiquei com pena

De deixar a minha querida

Com saudade eu escrevi

Ao meu amor uma carta

Só por estar longe de ti

Sinto que a tropa me farta

Minha querida CICA 5*

Tem menos categoria

Mas em questão de comida

Muito melhor se comia

Hoje acordei com azar

Pois ao sair da caserna

Escorreguei ao andar

Assim torci uma perna

Tudo é bom menos o rancho

Temos cinema e tudo

Vi hoje o filme "Comboio"

Apenas por um escudo

Quase à três anos não via

Os meus velhos queridos pais

Para Estarreja apontei

Em vez de ir pra Cascais

Com alegria infinita

Por todos fui recebido

Ao abraçar meu sobrinho

Fiquei muito comovido

Com toda a minha família

Tirei eu fotografias

Que lembrarão toda a vida

Aqueles felizes dias

Volto a entrar no quartel

Hoje pela manhãzinha

Alegrei-me ao receber

Do meu amor uma cartinha

Alegria e tristeza

Honradez e siganice

Na tropa existe de tudo

Trabalho e calansisse

De manhã na condução

Conduzi uma Berliette

De tarde numa fachina

Foi de pá e picarete

(quarto mês)

Tivemos um crosse duro

Sempre a correr sem parar

De tarde conduzi muito

Em coluna militar

(Relato escrito diariamente entre 02/01/1968 e 25/01/1968)

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