Capítulo III | Especialidade (2ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 23 de dez. de 2017
- 2 min de leitura

Oito dias trabalhei
Dos dez que me dispensaram
Umas massas esfolei
Hoje as férias acabaram
Ao Porto hoje cheguei
Às duas da madrugada
Na caminha me deitei
Mas não me despi nem nada
Comecei a trabalhar
Para a minha adaptação
No Porto, as primeiras
Que tive de condução
No dia 5 de Janeiro
No quartel do R.I.G
Fiz o reforço primeiro
Na vez de cantar os reis
Foi hoje o fim de semana
Que dia de reis tão triste
Como não pude ir a casa
A alegria não existe
Pra conhecer a cidade
Nela ando a passear
É próprio da minha idade
Uma pileca engatar
Hoje não vi a pileca
Mas que triste sorte a minha
Também tive uma alegria,
Do meu amor, uma cartinha
Choveu muito sem parar
Desde manhã ao meio dia
Tivemos que aguentar
Tudo o que o padre dizia
Tivemos crosse e cinema
Nesta soda quarta feira
Deram-nos massa e arroz
Passamos muita laseira
Ó minha mãe quem diria
Que o fruto do seu amor
Na tropa havia de ser
Um soldado condutor
Provas em todo o terreno
Nós tivemos que prestar
E eu paguei um reforço
Se a casa quiz voltar
Encontro-me outra vez
Na minha vila de Cascais
Quem me dera pôr-lhes os pés
E não ter que a largar mais
Domingo fui ao cinema
Á noitinha a despedida
Juro que fiquei com pena
De deixar a minha querida
Com saudade eu escrevi
Ao meu amor uma carta
Só por estar longe de ti
Sinto que a tropa me farta
Minha querida CICA 5*
Tem menos categoria
Mas em questão de comida
Muito melhor se comia
Hoje acordei com azar
Pois ao sair da caserna
Escorreguei ao andar
Assim torci uma perna
Tudo é bom menos o rancho
Temos cinema e tudo
Vi hoje o filme "Comboio"
Apenas por um escudo
Quase à três anos não via
Os meus velhos queridos pais
Para Estarreja apontei
Em vez de ir pra Cascais
Com alegria infinita
Por todos fui recebido
Ao abraçar meu sobrinho
Fiquei muito comovido
Com toda a minha família
Tirei eu fotografias
Que lembrarão toda a vida
Aqueles felizes dias
Volto a entrar no quartel
Hoje pela manhãzinha
Alegrei-me ao receber
Do meu amor uma cartinha
Alegria e tristeza
Honradez e siganice
Na tropa existe de tudo
Trabalho e calansisse
De manhã na condução
Conduzi uma Berliette
De tarde numa fachina
Foi de pá e picarete
(quarto mês)
Tivemos um crosse duro
Sempre a correr sem parar
De tarde conduzi muito
Em coluna militar
(Relato escrito diariamente entre 02/01/1968 e 25/01/1968)
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