Capítulo IV | I.A.O (3ªParte)
- Manuel de Oliveira e Silva
- 20 de jan. de 2018
- 1 min de leitura

Estive de condutor do dia
Trabalhei com um camião
E às quatro da manhã
Não fui ao golpe de mão
Nunca mais lavei a cara
Desde que ao mato cheguei
Custou-me o primeiro dia
Mas depois me habituei
A comida é só manga
Posta a coser de manhã
Se eu pudesse usar tanga
Armava-me em Tarzan
Sem caserna e sem quartel
Sem mulheres para agradar
Com a barba grande, o Manel
Parece um lobo do mar
Três semanas a sofrer
Longe do amor a penar
Não sei como há-de ser
Dois anos no Ultramar
Eu e o meu pelotão
Às tantas da madrugada
Fizemos um golpe de mão
Roubamos uma frangalhada

Comi ração de combate
Ao mudar de acampamento
A fome também faz bem
Habitua-nos ao sofrimento
Sem amor e sem carinho
De tudo estamos fora
Amanhã vou a caminho
Para o quartel vou embora
Feliz data, feliz dia
Jamais o posso esquecer
Vim do mato ao meio dia
Vinte e dois anos fazer
Hoje então vou para casa
Com umas férias valentes
Com a bebedeira "dos anos"
Andamos nós todos quentes
Neste domingo bendito
Com o sol da Primavera
E com amor infinito
Tenho meu amor à espera
Volto ao trabalho e quem dera
Já não ter que o deixar
Gosas as férias... pudera
Goso-as a trabalhar
(Relato escrito diariamente entre 14/03/1968 e 25/03/1968)
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