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Capítulo IV | I.A.O (3ªParte)

Fotografia Manuel Oliveira e Silva 1968

Estive de condutor do dia

Trabalhei com um camião

E às quatro da manhã

Não fui ao golpe de mão

Nunca mais lavei a cara

Desde que ao mato cheguei

Custou-me o primeiro dia

Mas depois me habituei

A comida é só manga

Posta a coser de manhã

Se eu pudesse usar tanga

Armava-me em Tarzan

Sem caserna e sem quartel

Sem mulheres para agradar

Com a barba grande, o Manel

Parece um lobo do mar

Três semanas a sofrer

Longe do amor a penar

Não sei como há-de ser

Dois anos no Ultramar

Eu e o meu pelotão

Às tantas da madrugada

Fizemos um golpe de mão

Roubamos uma frangalhada

Verso de fotografia com dedicatória

Comi ração de combate

Ao mudar de acampamento

A fome também faz bem

Habitua-nos ao sofrimento

Sem amor e sem carinho

De tudo estamos fora

Amanhã vou a caminho

Para o quartel vou embora

Feliz data, feliz dia

Jamais o posso esquecer

Vim do mato ao meio dia

Vinte e dois anos fazer

Hoje então vou para casa

Com umas férias valentes

Com a bebedeira "dos anos"

Andamos nós todos quentes

Neste domingo bendito

Com o sol da Primavera

E com amor infinito

Tenho meu amor à espera

Volto ao trabalho e quem dera

Já não ter que o deixar

Gosas as férias... pudera

Goso-as a trabalhar

(Relato escrito diariamente entre 14/03/1968 e 25/03/1968)

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